sábado, 11 de junho de 2016

FEIJÓ: Ex-vereadora acusada de forjar morte do marido é presa em Rio Branco

Marleidy Dourado foi condenada a 16 anos de prisão por forjado acidente que vitimou o marido (Foto: Quésia Melo/G1)
A Polícia Civil cumpriu nesta sexta-feira (10) um mandado de prisão contra a ex-vereadora de Feijó (AC), Marleidy Dourado, de 36 anos. Ela é condenada a 16 anos de prisão por forjar a morte do marido, na época presidente municipal do Partido dos Trabalhadores (PT), José Nilson Thaumaturgo Ferreira, de 56 anos, em um suposto acidente de trânsito. O crime ocorreu em 2010, mas a condenação veio em 2013 e, desde então, ela recorria da pena em liberdade. Marleidy foi presa no bairro Irineu Serra, em Rio Branco.

Segundo a polícia, a ex-vereadora e o marido estavam de moto a caminho de um aniversário, quando chegaram no km 12 da BR - 364, entre as cidades de Feijó e Tarauacá, ela pediu que ele parasse a moto com a desculpa que precisava urinar. No entanto, quem os aguardava na estrada eram o amante e dois homens contratados por ela, que mataram a vítima a pauladas.

Marleidy então, disse que o casal teria sido atingido por um carro de passeio. A mulher ainda chegou a ser hospitalizada por causa das lesões que teria, de acordo com ela, sofrido no acidente.

O laudo apresentado pelo IML, entretanto, aponta que a vítima apresentava hematomas e teve uma morte violenta, que não foi ocasionada por um acidente de trânsito. “O local foi forjado, houve a simulação de um acidente de trânsito. Os peritos chegaram à conclusão que as versões apresentadas de forma subjetiva eram incompatíveis com as provas periciais que foram analisadas", explica o diretor-geral do Departamento de Polícia Técnico-Científica (DPTC), Haley Vilas Boas.

Vilas Boas diz ainda que os hematomas no cadáver não eram compatíveis com os de uma vítima de acidente de trânsito, assim como faltavam na pista, as marcas de frenagem do carro que teria acertado o casal.

as marcas de frenagem não batiam com as da moto em que o casal estava e as marcas de frenagem na pista não eram compatíveis com a unidade veicular, foi descartada a ocorrência de trânsito e sim uma morte violenta”,

A sentença condenatória final foi proferida pela comarca de Feijó e não cabe mais recurso. Marleidy reponde pelos crimes de homicídio qualificado, por motivo torpe, e fraude processual, já que a cena do crime foi modificada. Após exames de corpo de delito ela deve ser encaminhada ao presídio.

Quésia Melo
Do G1 AC

quinta-feira, 2 de junho de 2016

IFAC certifica artesãos em comunidades indígenas através do Pronatec

Aldeia Puyanawa
Valorizar e reconhecer os conhecimentos dos povos tradicionais. Com isso em mente, o Instituto Federal do Acre (IFAC) através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) ofertou o curso de Artesão de Artigos Indígenas para duas comunidades no interior do Acre neste primeiro semestre de 2016. Os cursos foram finalizados com a certificação de 40 profissionais das aldeias Puyanawa (Mâncio Lima) e Pinuya (Tarauacá) nos dias 25 e 26 de maio. As cerimônias realizadas nas aldeias tiveram a participação da comunidade, servidores do IFAC e representantes da Fundação Nacional do Índio – Funai no Juruá.
Aldeia Puyanawa
No dia 25 foi realizada a certificação de 20 indígenas do povo Puyanawa, na aldeia de mesmo nome localizada a 18km do município de Mâncio Lima. O anfitrião, cacique Joel Ferreira Lima agradeceu a todos os envolvidos e participantes do curso. Ele afirmou que a comunidade já começa a ver um retorno da formação, pois os artesanatos produzidos já estão gerando renda. O cacique também destacou a importância de revitalizar os saberes culturais. “Estamos buscando isso de uma memória de séculos atrás”, disse. Ele comemorou a oportunidade de fazer o curso na própria aldeia e concluiu dizendo que “o Pronatec trouxe uma injeção de ânimo aqui para nós”.

A coordenadora do Pronatec-Indígena, Profa. Alcilene Alves agradeceu a possibilidade do IFAC poder contribuir com os povos indígenas, afirmando que este é um momento de fortalecimento dos saberes tradicionais. A coordenadora geral do Pronatec, Profa. Danielle Jacob, afirmou que o IFAC vai continuar a parceria e pediu que os alunos falassem o que acharam do curso e o que poderia ser melhorado para as próximas ofertas.
Aldeia Puyanawa
Quem também acompanhou e participou das certificações foi o Rafael Almada, conselheiro do IFAC representante do Ministério da Educação (MEC). Ele afirmou que aquele era um momento especial para ele pois era uma oportunidade de vivenciar o que o Pronatec proporciona para as pessoas. “O Pronatec valorizou o regional trabalhando com os professores da própria aldeia e com os arranjos locais”, disse.

Além de Puyanawas, este curso de artesanato teve a participação de indígenas do povo Náua como é o caso da artesã Lucila da Costa. Ela mora na aldeia Boca Tapada/Novo Recreio, próxima da Serra do Divisor que fica a um dia de viagem de ‘voadeira’ pelo Rio Moa.

“O curso para mim foi muito importante, foi um desafio para nós do povo Náua que moramos distante da aldeia dos Puyanawa, mas para a gente foi uma grande conquista ter o conhecimento de um outro povo. A gente passou mais de um mês aqui com eles e juntando as nossas experiências com a deles a gente conseguiu fazer aquele material que vocês viram”, comentou Lucila. A artesã também explicou que no curso pôde aprender a usar materiais diferentes dos que estava acostumada como miçangas feitas de sementes e coco. “Eu já produzia artesanato antes do curso, como cerâmica e material com ossos, dentes e penas, que é o que a gente tem mais fácil para fazer. Então aqui nós tivemos novas experiências.”
Aldeia Puyanawa
Um dos professores no curso, o artesão Davi Ferreira Lima formado em Linguagens e Arte pela Universidade Federal do Acre (Ufac) contou sobre as aulas e o acompanhamento dos anciãos que auxiliaram para que tudo estivesse conforme os conhecimentos passados oralmente. “Eu fiz no meu TCC uma pesquisa sobre os tipos de artesanato que o nosso povo produzia antigamente e isso me ajudou bastante. E aí no curso, nós pedimos auxílio dos anciões porque tinha alguns tipos de artesanato que eles produziam que nós só tínhamos na história, então pegar informação é fácil, agora, como fazer? Então a gente teve auxílio de dois anciões que ajudaram a gente a produzir também dando dicas”, explicou Davi.

O professor e artesão também falou sobre a realização pessoal de poder compartilhar o que aprendeu na universidade. “Foi um sonho realizado porque, de toda a pesquisa que eu fiz, enquanto não tinha tido o curso [do Pronatec] eu estava com aquilo tudo dentro de mim, tudo acumulado, e o curso fez com que eu dividisse com meus alunos, os colegas aqui, foi uma coisa que eu pus para fora. E, como artesão, é o meu objetivo também ajudar os colegas que estavam aí também empenhados fazendo, né.”
Aldeia Pinuya
A estrada de terra marca o caminho para aldeia Pinuya localizada a 6km do município de Tarauacá. A comunidade vive em meio a floresta Amazônica e recebeu no dia 26 de maio a certificação do curso de Artesão de Artigos Indígenas na modalidade de formação inicial e continuada (FIC).
Aldeia Pinuya
Com a pele pintada por desenhos corporais [os chamados kene kuin] e vestidos com saias de palha de buriti, colares e cocais feitos com penas de pássaros, os 20 alunos concludentes realizaram uma apresentação de música e dança típica do povo Huni Kuin. Houve também uma exposição com colares, pulseiras, cerâmicas entre outras peças que foram produzidas no decorrer do curso.

Segundo a diretora de Administração do Campus Tarauacá, Dayana Araújo a preocupação em atender as necessidades educacionais dos povos indígenas sempre foi uma das prioridades do IFAC/Pronatec. “Percebemos que não podíamos ensinar os indígenas, por isso fomos buscar parcerias com o ICMbio, Funai e as organizações indígenas. E juntos estudamos a melhor maneira de ministrar o curso na comunidade de uma forma que possibilitasse não apenas a preservação sociocultural, mas também de cada etnia”, disse. As aulas foram ministradas por professores indígenas em uma escola na própria aldeia Pinuya e com programa curricular definido para atender a demanda da comunidade.
Aldeia Pinuya
Na cerimônia de certificação, o cacique Assis Kaxinawá agradeceu a presença de todos no evento e enfatizou a importância dos professores indígenas. “É uma forma não só de melhorar a aprendizagem, mas de valorizar a cultura e a língua do povo Huni Kuin”, destacou.

Todas as atividades desenvolvidas na aldeia, seja das mais simples ou complexas são acompanhadas por cantorias que tem como principal objetivo compartilhar entre si costumes, espiritualidade, o conhecimento das plantas, etc. Todos os elementos que envolveram as atividades de Artesão de Artigos Indígenas possuíram esses aspectos da essência do povo Huni Kuin, como explicou o estudante Geovani Peres da Silva. “Na fabricação da cerâmica foi um momento muito especial para mim, pois até para tirar o barro temos que cantar e depois de todo esse processo cantamos novamente para agradecer a natureza. Antes do curso eu não sabia disso, já que essa sabedoria estava apenas com os mais velhos”, disse Geovani.

Perspectivas

O coordenador regional da Funai no Juruá, Luiz Valdenir Silva de Souza destacou a contribuição do curso para a cultura indígena. “O curso contribui no processo de revitalização do artesanato, um elemento da cultura que vem fortalecer a identidade dos povos indígenas. Então essa é a contribuição desse curso do qual a Funai tem a honra de fazer parte e que está à disposição para continuar o diálogo e atingirmos uma maior população indígena, principalmente na região do Juruá”. Luiz falou ainda sobre outros cursos que atendem às demandas das comunidades como de Cooperativismo. “Já ficou estabelecido nesse primeiro contato que o artesanato, o cooperativismo e o associativismo são temáticas que vem ao encontro das demandas dos povos indígenas hoje que é a autonomia. Precisamos formar instâncias jurídicas e a partir daí buscar estabelecer parcerias e apoios para desenvolver a política de sustentabilidade das terras indígenas”, concluiu.
Aldeia Pinuya
Segundo a reitora do IFAC, Profa. Rosana Cavalcante dos Santos, “o Instituto Federal na região do Tarauacá-Envira possui um olhar especial para a comunidade indígena da regional”, explicou a reitora que destacou, ainda, a vantagem do Pronatec atendendo comunidades de difícil acesso. “Diferente dos trabalhos que vínhamos fazendo, a gente vai para dentro da comunidade em vez deles irem para a cidade. Os nossos editais são direcionados para a comunidade, esse é o nosso grande avanço”, afirmou. A reitora falou também sobre as oportunidades de estudo nos cursos presenciais do IFAC: “Além dos cursos FIC nós também temos cursos presenciais e queremos nos estabelecer como um polo de referência aqui na região com o nosso campus. A ideia é oferecer cursos direcionados para a comunidade e continuar na oferta de cursos FIC de acordo com a necessidade local”.

Pronatec-Indígena

O Campus Tarauacá do IFAC foi o primeiro a oferecer cursos de formação profissional para as comunidades indígenas da regional ainda em 2014, numa parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA pelo Pronatec-Campo, Florestas e Águas. Em 2015 a experiência foi aprimorada com a construção de documentos norteadores com as orientações da Divisão Técnica da Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio – FUNAI Juruá – setor que acompanha 14 povos e 31 terras indígenas no Acre. 

Os movimentos sociais da educação e da cultura indígena como a Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPiac), a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (Amaaiac) e outras também foram ouvidas para a escolha de novos cursos, editais de seleção diferenciados para a escolha de professores, além da construção de Planos Pedagógicos de Cursos (PPCs) exclusivos para as ofertas indígenas. Para o curso de Artesanato Indígena realizado no Vale do Juruá, por exemplo, foram respeitados os conhecimentos sobre o período lunar adequado para a coleta de sementes, da madeira e do barro.